Discursos

Churchill é conhecido por ser o autor de alguns dos discursos mais conhecidos do mundo.

Winston Churchill discursando durante a Segunda Guerra Mundial; International Churchill Society

Discursos

Discurso de 14 de julho de 1940
A Guerra dos soldados desconhecidos

Hoje é 14 de julho, Dia Nacional da França. Há um ano, em Paris, eu assistia à parada suntuosa, pelos Champs Elysées, do Exército e do Império Francês. Quem pode prever o que os outros anos podem trazer? A fé nos foi dada para ajudar e confortar quando ficamos espantados diante do livro onde se desenrola o destino humano. Proclamo minha fé de que alguns de nós viverão para ver um 14 de julho quando uma França libertada irá de novo se alegrar na grandeza e na glória, e uma vez mais se afirmar como defensora da liberdade e dos direitos do homem. Quando o dia de amanhecer, e amanhecer irá, a alma da França se voltará para os franceses e francesas, onde quer que estejam e que, no momento mais difícil, não perderam as esperanças na República.

Agora, cabe a nós ficar sozinhos diante do que se rompeu e enfrentar o pior que o poderio e a inimizade do tirano podem fazer. Posicionado-nos diante de Deus, conscientes de que serviremos a um propósito revelador, estamos prontos para defender a nossa terra natal contra a invasão da qual está ameaçada. Estamos lutando sozinhos por nós mesmos, mas não estamos lutando sozinhos para nós mesmos.

Aqui, nesta forte cidade do refúgio, que santifica os títulos do progresso humano e que é de profunda importância à civilização cristã; aqui, cercados por mares ou oceanos por onde reina a Marinha e protegidos lá em cima pela valentia e devoção de nossos aviadores - esperamos sem medo o ataque iminente. Talvez seja hoje à noite, talvez seja semana que vem. Talvez não aconteça nunca. Devemos nos mostrar igualmente capazes de enfrentar um repentino choque violento ou - o que talvez seja um teste mais difícil - uma vigília prolongada. Mas seja o desafio rápido ou longo, ou ambos, não vamos buscar acordos, não vamos tolerar negociação. Podemos mostrar misericórdia - não pediremos nenhuma.

Posso facilmente entender como alguns observadores simpatizantes do outro lado do Atlântico, ou como amigos ansiosos nos países ainda não violados da Europa - que não podem medir nossos recursos e nossa determinação - possam temer pela nossa sobrevivência, já que viram tantos Estados e Reinos serem despedaçados em poucas semanas ou mesmo em dias pela monstruosa força da máquina de guerra nazista. Hitler, no entanto, ainda não se impôs a uma grande nação que possua uma determinação semelhante à sua. Muitos destes países foram envenenados pela intriga, antes de serem destruídos pela violência. Foram apodrecidos por dentro antes de serem golpeados de fora. De que outra forma se pode explicar o que aconteceu na França - com o Exército Francês, com o povo francês, com os líderes do povo francês? [...]

Temos um milhão e meio de homens armados no Exército Britânico hoje à noite - e a cada semana de junho e julho a organização, as defesas e o próprio poder de ataque foram avançando a passos largos. Nenhum elogio é demais para os oficiais e homens - sim e civis - que proporcionaram esta imensa transformação em período tão curto.

Por trás dos soldados do exército regular, como forma de destruir paraquedistas, invasores transportados pelo ar e quaisquer traidores que possam ser encontrados entre nós (mas não acredito que sejam muitos - malditos sejam, vão ser castigados); por trás do exército regular há mais de um milhão de voluntários de Defesa Local ou, como são melhor chamados, a Guarda Interna. Estes oficiais e homens - dos quais uma grande proporção lutou na última guerra - têm o intenso desejo de atacar e estar perto do inimigo, onde quer que ele possa aparecer. Se o invasor chegar à Grã-Bretanha, não haverá a acomodação plácida do povo em submissão, como vimos, sim, em outros países. Vamos defender cada aldeia, cada vila, cada cidade. A grande população de Londres, lutando rua a rua, poderia facilmente destruir um inteiro exército hostil - e nós preferiríamos ver Londres em ruínas e cinzas a ser mansa e abjetamente escravizada. Sou obrigado a declarar estes fatos porque é necessário informar o povo sobre as nossas intenções e, assim, renovar a confiança deles. [...]

Estou na liderança de um governo que possui representantes de todos os partidos no Estado - todos os credos, todas as causas, cada segmento reconhecido de opinião. Estamos situados logo abaixo da Coroa, na nossa antiga monarquia, apoiamo-nos em um Parlamento e em uma imprensa livre. Há, no entanto, um vínculo que nos une e nos sustenta aos olhos do público, como está ficando mais e mais notório, o de que estamos preparados para agir como um todo, para apoiá-lo e reforçá-lo. Hoje à noite, este é o elo de Sua Majestade. Somente assim, em tempos como estes, nações podem sustentar a causa confiada aos seus cuidados.

Mas tudo depende agora da força de viver da raça britânica em todas as partes do mundo e de nossos povos amigos e simpatizantes em todo lugar, fazendo o máximo, noite e dia, dando tudo, ousando tudo, suportando tudo - ao máximo - até o fim. Esta não é uma guerra de líderes ou de príncipes, de dinastias ou de ambição nacional, é uma guerra de povos e de causas. Há um grande número de pessoas, não só nesta ilha, como em outras terras, que irão prestar um serviço dedicado nesta guerra, mas cujos nomes jamais serão conhecidos, cujas ações jamais serão registradas.

Esta é uma guerra de guerreiros desconhecidos: vamos todos nos esforçar, sem falhar na fé ou no dever, e a maldição das trevas de Hitler desaparecerá de nossa época.

Texto extraído do livro: 'Churchill e a ciência por trás dos discursos' - de Ricardo Sondermann

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